Nos últimos anos o futebol foi atingido por uma onda de evolução tecnológica dentro de fora dos gramados. Algumas destas ideias não vingaram, enquanto outras são mais do que realidade nas partidas. Quem nunca ouviu falar de VAR? Ou do tal mapa de calor usado pelas emissoras para analisar a atuação dos times durante o jogo?
Quem mais tem se beneficiado com os avanços proporcionados pela tecnologia são os clubes que passaram a ter acesso a um leque de informações cada vez maior. Esses dados são gerados por aplicativos utilizados pelos analistas de desempenho para municiar o trabalho das comissões técnicas com o objetivo de aprimorar a qualidade do jogo.
Observando toda essa gama de possibilidades e tendo maior poder na tomada de decisões, Tiago Borges, que retornou para o clube como Executivo da base e agora integra o profissional, uniu dados e fórmulas matemáticas para criar uma ferramenta que ele chama de “Código de Análise”. Com ela Tiago é capaz de saber, em números, se um atleta está no nível esperado para disputar uma determinada competição, por exemplo. Mas ele alerta: “a ferramenta é apenas um dos tópicos na observação de um determinado jogador”.
Como começou
Tiago conta que sempre foi ávido por criar mecanismos que dessem suporte ao trabalho dele nos mais de 10 anos dedicados ao futebol. Mas o gatilho final para a formatação de uma ferramenta mais densa foi o filme estrelado por Brad Pitt, “Moneyball: O Homem que mudou o Jogo”. No filme o personagem de Pitt (Billy Beane) resolve tentar uma abordagem científica para avaliar o desempenho dos jogadores de beisebol, abandonando as estatísticas tradicionais.
O que se passa no filme, apesar de ter sido fonte de inspiração, não é exatamente o caso de Tiago, que não renunciou às estatísticas tradicionais mais utiliza elas para ter um novo parâmetro de avaliação.
No “Código de Análise” ele utiliza cerca de 80 estatísticas geradas por um aplicativo que lê as ações dos atletas durante os jogos. Este aplicativo é capaz de informar quantos passes o jogador tenta no jogo e quantos ele acerta, quantos duelos aéreos ele disputa e quantos vence ou ainda quantas finalizações ele tenta e quantas acerta. Esses dados são baixados em uma planilha e nele são aplicadas cerca de 30 fórmulas matemáticas até que se gere um único número. Ou seja, a ferramenta é capaz de dar ao atleta um valor numérico com base nas atuações.
Mas para chegar ao que tem agora, Tiago errou algumas vezes. “Quando eu comecei o código não representava a realidade. Eu assistia alguns jogos de um determinado atleta tinha uma informação no visual e outra na ferramenta. Tive que ajustar até chegar ao ponto de ter na ferramenta a mesma resposta que o visual me dava”, observa.
Esses ajustes foram um passo importante para dar relevância a ferramenta e poder garantir maior credibilidade ao processo, aliando a tecnologia aos demais fatores científicos e empíricos aplicados na avaliação de um determinado jogador. “A ideia no fundo é usar a tecnologia a nosso favor, com base em parâmetros matemáticos de avaliação” revela Tiago.
Uso na contratação de atletas
Além de auxiliar na avaliação dos atletas do elenco, a ferramenta também pode servir como ponto de partida para a contratação de jogadores e Tiago afirma que vai utilizar dentro do JEC. “Vamos utilizar aqui no clube”, afirma ele, “mas é importante considerar que a ferramenta nos dará um suporte na hora de observar um jogador. É um complemento. Temos outras análises que são feitas em uma contratação como o contexto do atleta em relação a parte comportamental fora de campo e o modelo de jogo que está inserido”, ressalta Borges.
A facilidade e o diferencial da ferramenta são a divisão por posições e a possibilidade de comparar um jogador com outro que esteja atuando na mesma competição. E com jogadores que atuam em mais de uma posição o “Código de Análise” também pode auxiliar a comissão técnica dando indicativos de qual posição o rendimento do atleta é maior. “Podemos avaliar um atleta jogando em diferentes funções como um lateral que joga também de extrema. Em cada posição haverá um resultado diferente dentro da plataforma”, diz Tiago.
O “Código de Análise” segue em evolução e sua margem de acertos está próxima dos 95%. “Não é uma ferramenta fechada, ela segue em desenvolvimento para que os resultados sejam ainda mais assertivos” afirma. E quem quiser fazer uso dela terá que negociar muito com o criador, que afirma não querer vender e sim gerar resultados no seu trabalho. Aliás, só quem mexe nela é Tiago que demonstra um certo apego. “Não tenho essa pretensão de vender. Foi difícil chegar nela. É um trabalho de uma vida. Não abro para ninguém (sorri). Mas hoje coloco à disposição do clube como mais um instrumento de trabalho”, conclui.
Texto: Jota Amaral