A interpretação do novo estatuto do JEC tem sido feita de maneiras diferentes dentro do clube. E em razão destas visões diferentes, há dúvidas se o presidente Vilfred Schapitz encerrará seu mandato no fim do ano ou cumprirá o estatuto e permanecerá no cargo até o fim de 2020. O assunto foi levantado na manhã deste sexta-feira pelo jornalista Gabriel Fronzi (veja aqui) e continua rendendo debates nos bastidores do clube.
A polêmica está concentrada no artigo 45. Ele versa sobre as eleições do conselho deliberativo e informa que “excepcionalmente e em caráter transitório, a diretoria do conselho cumpriria um mandato de três anos a partir da vigência do novo estatuto”. No entendimento de alguns diretores, esta regra não se aplicava às eleições da diretoria executiva. No entanto, quem participou da confecção do estatuto afirma que as regras valem para todas as eleições: conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria executiva.
O advogado e vice-presidente do conselho, Roberto Pugliese Júnior, aponta que praticamente nada mudou. Ele explica que no antigo estatuto os mandatos também eram de dois anos, mas as eleições poderiam ser convocadas de abril (mês da posse) até novembro. Ou seja, mesmo depois de completar o período de dois anos, os antigos presidentes poderiam convocar as eleições no fim do ano.
Agora, pelo novo estatuto, há um período fixo para as eleições – 1º de novembro a 10 de dezembro. No caso específico do atual mandato de Vilfred, haveria uma extensão de apenas alguns meses, mas Vilfred nem completaria três anos de gestão com a realização de eleições no fim de 2020 – ele tomou posse em abril de 2018.
Pugliese finalizou que a confusão está em interpretar (de maneira equivocada) que haverá regras diferentes para as eleições do conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria executiva.
A surpresa
Em entrevista recente à coluna (veja aqui), o presidente Vilfred Schapitz afirmou que deixaria no Joinville no fim do ano, sem buscar a reeleição – na ocasião, o entendimento do dirigente é de que as eleições ocorreriam no fim de 2019. Nesta hipótese, o atual presidente sequer completaria o prazo de dois anos de sua gestão.
No entanto, ao ser alertado pelo jornalista Gabriel Fronzi sobre a confusão de interpretação do estatuto, se mostrou surpreso e reafirmou não ter condições de dar sequência ao mandato após o fim de 2019 – motivos de saúde e promessas familiares o impediriam.
Neste caso, Vilfred teria de renunciar ao cargo. De acordo com o artigo 67, nesta hipótese, o vice assumiria. Mas, informalmente, Marco Polo Cunha também demonstrou pouco interesse em dirigir o clube. Sem o vice, o cargo ficaria com o presidente do conselho, Dartanhan Oliveira.
O problema é que segundo o item “c” do artigo 66, Dartanhan não pode ser presidente por ter menos de 40 anos – hoje ele tem 37. Ou seja, ele seria obrigado a convocar eleições para um mandato tampão, até o fim de 2020.
Reação
Procurado pela coluna, o presidente do conselho, Dartanhan Oliveira, reconheceu que, de fato, esta gestão deve terminar seu mandato em novembro de 2020. Ciente das conversas de bastidores e das recentes declarações de Vilfred, ele pretende conversar com o atual presidente para entender o caso e debater outros assuntos (como as recentes perdas de diretores, como Luiz Fernando Bublitz e Delcir Silveira Júnior). A ideia é clarear mais o cenário até a próxima reunião do conselho deliberativo, marcada para o próximo dia 25.
Mais surpresas
A coluna ouviu outros diretores a respeito do caso. O diretor financeiro Alexandre Poleza não tinha o entendimento de que o mandato de Vilfred se estenderia até o fim de 2020. De qualquer maneira, afirmou que acredita na continuidade do presidente e ele próprio quer continuar nas suas funções até 2020, como prevê o estatuto.
O diretor jurídico José Acácio Piccinini afirmou que quer olhar com mais atenção o estatuto para se posicionar. Ele entende que, inicialmente, não há motivos para dúvidas de interpretação.
Até o momento desta publicação, a coluna não havia conseguido falar com o diretor da base, Carlos Grendene, e o diretor de marketing, Leonardo Castelo.
Futuro
Se Vilfred de fato renunciar, o Joinville pode ter um problema para encontrar alguém disposto a dirigir o clube para um mandato tampão de apenas um ano. Hoje, no conselho, havia uma busca de um nome para a próxima gestão, mas mesmo esta formação de um novo líder ainda e lenta e com poucas opções. Encontrar alguém disposto e ficar por apenas um ano e correr o risco de não ter sequência (após o pleito de 2020) seria algo ainda mais complicado.
Alguns conselheiros projetam uma emenda no atual estatuto para tentar corrigir o rumo desta situação, mas ainda fazem consultas jurídicas para saber se de fato há uma solução para o atual impasse.
Texto: Elton Carvalho
Foto: Divulgação